segunda-feira, 28 de julho de 2008

Apologia ao Silêncio


Curso de Escutatória (Rubem Alves)

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
... Escutar é complicado e sutil, diz Alberto Caeiro que 'não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma'.
Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro: - Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios.
Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, [...]. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas.
Na nossa civilização, se eu falar logo e logo a seguir fico em silêncio, são duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
O longo silêncio, na verdade deve querer dizer: 'Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou'. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia que de tão linda nos faz chorar.
Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio.
Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A quem servir...

Para quem é bom em julgar, peço desculpas por não ser exatamente aquilo que você espera.
A você que se vê num nível superior, que pensa ter as melhores respostas, peço desculpas por te surpreender quando não sou quem você pensa, aliás isto só demonstra uma coisa, você está na média assim como qualquer um de nós.
E Sim, a média é Medíocre.
Se evoluir é ser como você, prefiro minha vida de macaco na qual uso as ferramentas que a natureza me dá.
Te amo tem um bom tempo, mas em suas dúvidas deste sentimento sobra o seu medo de ser amada. Nunca chorei por isso e acho que isto não vai acontecer...
Sua confusão entre um ato de carinho e um ato de forçar algo que não existe ultrapassa a linha do ridículo não apenas diante dos meus olhos e sim de todos que estão a nossa volta.
Seu ciúmes já não fere mais porque agora sei que ele é mais crônico do que a bronquite do meu irmão.
Até tenho mais a dizer, portanto se a carapuça lhe servir me procure...